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O Sindicato dos Bancários de Campo Grande-MS e Região realizou nesta quarta-feira, 6 de agosto, a Conferência Livre de Mulheres, um evento crucial com o tema "Trabalhadoras do ramo financeiro de Campo Grande pelo enfrentamento ao assédio sexual e assédio moral no ambiente de trabalho". A conferência, que é uma das etapas preparatórias para a 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, organizada pelo governo federal, em Brasília, entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, reuniu trabalhadoras e lideranças sindicais para debater e propor soluções.

A conferência foi realizada via plataforma Zoom, com mediação da advogada e assessora jurídica da Contraf-CUT no projeto “Basta! Não irão nos Calar”, Phamela Godoy, e pela jornalista, especialista em políticas públicas, Malu Aquino.

Violência preocupante em MS

As falas de abertura destacaram o cenário preocupante de violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul. "A situação em nosso estado é bastante preocupante, pois na semana passada tivemos o 21º caso de feminicídio. Temos muito trabalho pela frente e pretendemos cooperar na criação de políticas públicas eficazes”, afirmou a secretária de Mulheres do sindicato, Luciana Rodrigues.

"Não poderíamos deixar de realizar esta conferência, pois o tema é de suma importância, diante da tristeza do alto índice de feminicídio que, infelizmente, continua a ser noticiado em nosso estado”, reforçou a presidente da entidade, Neide Rodrigues.

Diante dessa violência em MS, o presidente da Fetec-CUT/CN, Rodrigo Britto, qualificou a conferência como um "grito de liberdade" em um estado com predominância do agronegócio e do patriarcado. "O que nos inspira é saber que há companheiras aguerridas, conscientes e que não irão se furtar ou recuar sobre qualquer tipo de misoginia, machismo, violência ou ódio", pontuou.

Categoria fortalece pautas das mulheres

As secretarias de Mulheres da Contraf-CUT e da Fetec-CUT/CN, Fernanda Lopes e Elis Regina Camelo, respectivamente, destacaram que a realização da conferência mostra a força da categoria, que realizou 18 conferências em todo país.

"Nossa categoria tem sido responsável por muitos avanços para as mulheres no país. Por isso, as pautas que levaremos à conferência nacional não serão apenas de nosso interesse, mas representarão tantas mulheres que não têm a mesma organização que nós. Estamos indo por todas, em busca de um Brasil melhor”, destacou Fernanda Lopes.

"Que este seja um momento de união, de troca e de fortalecimento para, juntas, buscarmos formas de combater essas violências e construir um ambiente de trabalho mais justo e seguro. Que saiam daqui propostas relevantes que reverberem positivamente em nossa luta cotidiana”, disse Elis Regina.

Assédio no ambiente de trabalho

Na sua palestra da Conferência, a presidenta do Sindicato, Neide Rodrigues, abordou o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, focando em suas definições, exemplos, e quem pode praticá-los.

Também foram apresentadas as conquistas das trabalhadoras do ramo financeiro no combate a essas violências, destacando um histórico de avanços significativos:

• 2000: Criação da Mesa de Igualdade de Oportunidades, para tratar dos direitos de grupos afetados por desigualdades de gênero, raça, orientação sexual, identidade de gênero e pessoas com deficiência.
• 2006: Criação do Grupo de Trabalho para debater o combate ao assédio moral.
• 2011: Ampliação do combate ao assédio moral com a proibição da publicação de ranking de performance no cumprimento de metas.
• 2013: Nova ampliação do combate ao assédio moral com a proibição de envio de mensagens aos celulares de bancárias e bancários com cobrança de metas.
• 2022: Lançamento do Programa de prevenção e combate ao assédio sexual, incluindo canal de denúncia e medidas de apoio.
• 2024: Lançamento do Programa de prevenção e combate ao assédio moral, assédio sexual e outras formas de violência no trabalho, que unifica procedimentos e canais de denúncia e fortalece os mecanismos de prevenção.

“Essas conquistas são fruto da mobilização e organização dos trabalhadores e dos movimentos sociais, buscando transformar uma realidade que, apesar de desafiadora, tem visto progressos importantes. Também representam um esforço contínuo para garantir um ambiente de trabalho mais respeitoso e justo, embora a necessidade de continuar lutando por melhorias e por uma sociedade mais igualitária seja constante”, lembrou Neide Rodrigues.

Mulheres na sociedade brasileira

A supervisora técnica do Escritório Regional do Dieese em MS, a economista Andreia Ferreira, fez uma apresentação de dados com a situação precária das mulheres na sociedade brasileira, abordando como os estereótipos de gênero as submetem e as desvalorizam. Andreia também apresentou dados alarmantes sobre a desigualdade no mercado de trabalho, incluindo salários mais baixos e maior tempo dedicado a afazeres domésticos não remunerados, além de destacar a persistência da violência doméstica e os feminicídios.

No caso da violência doméstica, a economista do Dieese mostrou os levantamentos do Monitor da Violência Contra a Mulher no estado de Mato Grosso do Sul, mostrando que neste ano de 2025, até o início do mês de agosto, já foram praticados 21 feminicídios no estado.

“É estarrecedor. Não houve nenhum município em Mato Grosso do Sul sem ocorrências registradas de violência doméstica. Isso significa que do maior ao menor município, e do mais desenvolvido ao menos desenvolvido, a violência doméstica foi registrada em todo o território do estado. Mas a existência desses dados é fundamental, pois eles servem de subsídio para a elaboração de políticas nacionais para as mulheres”, destacou Andreia.

Clique aqui e acesse a apresentação da economista Andreia Ferreira.

Propostas para a 5ª CNPM

Após as mesas de debate, as participantes discutiram e elaboraram propostas que serão levadas à 5º Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (5ª CNPM). As propostas aprovadas foram:

• Tornar obrigatória, em empresas públicas e privadas com mais de 50 funcionários, a criação de Núcleos Internos de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio, com equipe multidisciplinar, paritária com representantes indicados por Sindicatos representantes de trabalhadores e empresas, que seja capacitada para acolher denúncias, garantir sigilo e acompanhar vítimas.
• Implementar campanhas educativas permanentes em todas as esferas (governo, empresas, mídia e escolas técnicas/profissionalizantes), com foco em prevenção, identificação e combate ao assédio sexual e moral no trabalho, promovendo a cultura do respeito e da equidade de gênero.
• Propor o aprimoramento da legislação trabalhista e penal para ampliar as definições de assédio sexual e moral, acelerar os processos de responsabilização e aplicar sanções mais severas como multas proporcionais a gravidade dos casos às empresas que se omitirem diante de denúncias ou reincidirem em casos. E endurecer as sanções para os assediadores.

Representantes

As participantes da Conferência Livre promovida pelo Sindicato também elegeram delegadas que irão defender as propostas aprovadas para a etapa nacional. Foram eleitas: Luciana Rodrigues, como delegada titular, e Glaucia Lopes, como suplente.

Por: Comunicação do SEEBCG-MS