18 de Novembro de 2025 às 16:14
Racismo estrutural
A Caixa Econômica Federal é um dos maiores bancos públicos do país e um dos principais empregadores do setor financeiro brasileiro. O banco é o principal responsável pela execução dos programas sociais do Governo Federal, que visam combater a desigualdade social e econômica no país. No entanto, um levantamento realizado pelo Dieese, com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos do Ministério do Trabalho e Emprego, revela que o banco reproduz em seu ambiente as profundas desigualdades estruturais do mercado de trabalho no país, especialmente quando se analisam cor, raça, renda e oportunidades de ascensão profissional.
“O levantamento do Dieese escancara um cenário que exige ação urgente da empresa e atenção permanente das entidades representativas dos trabalhadores na cobrança de ações da Caixa para acabar com a desigualdade”, disse a representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Fetrafi) do Nordeste na Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Chay Cândida, que é militante do movimento negro em Recife. “E, neste caso, é preciso ressaltar que nos referimos especificamente à desigualdade racial. Ou seja, é uma batalha contra o racismo, que faz parte da luta geral contra a desigualdade”, completou.
Segundo os dados da Rais, 68,5% dos empregados da Caixa são brancos, somente 3,8% são pretos e 23,4% pardos. Nos cargos e faixas de remuneração mais altas (acima de 10 salários mínimos), essa desigualdade se intensifica:
A disparidade é ainda mais grave para mulheres negras, que formam o grupo com menor presença nas faixas salariais elevadas, evidenciando não apenas desigualdade racial, mas também de gênero.
Os dados de movimentação do Caged mostram aumento do número de empregados e empregadas pretas (529) e pardas (2.325) de 2020 a 2025. O saldo para trabalhadores brancos foi negativo (-983). Entretanto, o avanço proporcional não se traduz em igualdade salarial.
A remuneração média revela:
Ou seja, trabalhadores negros seguem ganhando menos, mesmo com a ampliação de contratações.
Os dados confirmam uma realidade conhecida e questionada há anos pelas entidades sindicais. “A Caixa precisa assumir seu papel no combate ao racismo estrutural dentro da própria instituição”, defende o coordenador da CEE/Caixa, Felipe Pacheco. “A Caixa é um banco público que transforma a vida do povo brasileiro, mas precisa também transformar a vida de quem constrói essa instituição no dia a dia. Não é aceitável que pretos e pardos sejam maioria na população, mas minoria nos cargos de gestão. Precisamos de políticas reais e efetivas de promoção da igualdade”, completou.
“Quando olhamos quem chega aos cargos mais altos, a desigualdade salta aos olhos. É urgente criar mecanismos de acesso, formação e promoção que garantam que mais trabalhadoras e trabalhadores negros ocupem espaços de liderança”, disse Chay Cândida. “O Norte e o Nordeste, regiões onde a população negra é maioria, são também onde temos histórias de ascensão mais dificultadas. A Caixa precisa olhar para dentro, enfrentar o racismo estrutural e promover oportunidades reais para suas empregadas e empregados negros”, completou.
Para a representante eleita dos empregados no Conselho de Administração da Caixa Fabiana Uehara, não basta contratar mais negros. “É preciso garantir trajetória, valorização, formação e presença nas cadeiras de decisão. Diversidade é compromisso, não estatística”, disse Fabi, como é conhecida pelos colegas de trabalho no banco.
“A Caixa tem papel social fundamental no país, e isso inclui ser exemplo na luta antirracista. Precisamos de políticas afirmativas, planos de carreira inclusivos e metas concretas que garantam que trabalhadoras e trabalhadores negros cheguem ao topo”, completou Fabi. “A presença negra nas chefias e na direção não pode ser exceção. Só há justiça quando há igualdade de oportunidades”, reforçou.
As entidades representativas reforçam que a Caixa, por ser uma empresa pública e estratégica, deve liderar o processo de transformação no setor financeiro, combatendo desigualdades e promovendo justiça racial de forma concreta e permanente.
Isso significa:
“As entidades de representação sindical e associativas das empregadas e empregados da Caixa reafirmam que não há democracia no mundo do trabalho sem igualdade racial, e que esse é um compromisso que a Caixa precisa assumir com firmeza e urgência”, disse o coordenador da CEE/Caixa.
Por: Contraf
Link: https://www.sindicario.com.br/caixa-economica-federal/dados-mostram-desigualdade-racial-na-caixa/